Sempre achava estranho quando o Alan respondia minhas perguntas intrigantes com outras mais intrigantes ainda. A princípio achava que isso era mesmo coisa de filósofo. Porém, convivendo com meu amigo, percebi sua ojeriza pela resposta pronta e entendi o porquê. A resposta cessa a beleza do descobrir, da possibilidade, dessa força que nos impulsiona em busca de respostas. Um paradoxo maravilhoso que nos liberta mais e mais a cada dia.
Contudo, a palavra "mistério" tem se tornado uma obsessão na vida de alguns crentes. Quanto mais "enrolado for o rôlo", quanto menos se entender e, às vezes, quanto mais estranho for o negócio, mais crentes são atraídos para as coisas encobertas. Aliás, "as coisas encobertas são para Deus" (Dt. 29.29) tornou-se a frase genérica que finaliza qualquer discussão - uma paulada na cabeça de qualquer aspirante a pensador.
"Eis que entrarei no seu plá plá plá... e vou fazer um reboliço no seu prô prô prô...".
Bom, além de não me informar absolutamente nada, essa frase ainda tem uma conotação péssima! (rs) Ela não é invenção minha, confesso. Escuto essa piada desde que era menino. Mas a verdade é que existe um grupo de pessoas que não tem a menor paciência para conviver com Deus e ir, aos poucos, descobrindo a revelação de seus mistérios. Mas antes que meus "amigos do manto" me crucifiquem, quero trazer à memória algumas vezes que o Senhor falou comigo no meio do fogo (rs).
Eu era um adolescente que acabara de ganhar a oportunidade de trabalhar pela primeira vez. O profeta, usado poderosamente por Deus, me dissera de forma muito clara que eu teria uma sala, um computador e uma mesa.
Porém, percebi que conforme fui crescendo, estudando a Palavra e tendo minhas próprias experiências com Deus, as manifestações proféticas ficaram cada vez mais escassas. Entendo que quando eu era menino, precisava de leite (I Co. 13.11). E eis aí o cerne do problema de muitos cristãos.
Por vivermos o "fast-food da fé, onde tudo já vem pronto, mastigado" (Alan Brizotti), não temos mais paciência de cultivar uma verdadeira amizade com Deus.
Quando o Senhor apareceu a Jó, não lhe deu explicações sobre sua desgraça repentina, muito menos revelou Seus mistérios mais profundos.
Não obstante, Jó se levanta das cinzas dizendo: "Meus ouvidos já tinham ouvido a Teu respeito, mas agora os meus olhos te viram" (Jó. 42.5).
Sinceramente? Alguns dias tenho vontade de gritar da janela da sala (onde costumo falar com Deus pelas madrugadas) e dizer-lhe que estou farto de tanto mistério! Que a minha vida não faz o menor sentido. Outros dias, porém, e esses são mais frequentes (graças a Deus), digo-lhe com satisfação que embora não O entenda, continuo fascinado por Sua forma de trabalhar.
Não, amigo leitor, eu não tive respostas às minhas perguntas mais intrigantes.
Também não tive nenhuma visão a cerca do meu ministério. Deus não me deu sonhos. Faz tempo que não ouço uma profecia. Já faz tempo que o mistério não é revelado. Porém, minha busca por Deus está cada vez mais emocionante. Sinto que quando abro uma porta desconhecida de minha fé, surgem novos questionamentos, mais trabalho pela frente, mais estudo da Palavra... E glória a Deus por isso!
Conselho de amigo - não busque respostas às suas perguntas. Respostas encerram histórias. Tal como aquele alpinista que chega ao topo do monte mais desafiador e ao fincar ali sua bandeira, grita: "Uhuuu... consegui!" - olha pra um lado, olha pra outro, respira fundo... a adrenalina acaba, ele tira a bandeira e volta pra casa.
Um abraço sem mistério,
L. Rogério
L. Rogério
Autor do livro "Adoração para Anônimos" (Editora Reflexão), L. Rogério tem ministrado nas áreas de adoração, apologética, liderança, família, entre outras. Seu ministério consiste em encorajar a igreja a um relacionamento íntimo e autêntico com Deus. Casado com Dany Miranda, que faz parte ativamente de seu ministério, já ministrou em diversas igrejas no Brasil e nos Estados Unidos. É fundador do projeto "Escola de Adoração" em SP que reúne todos os anos diversos músicos, cantores e palestrantes comprometidos com o Reino
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